INTERNI

ISAY WEINFELD: ESPAÇO E MATÉRIA

texto por Judith Pottecher
fotos por Christoph Kicherer

Impregnados por influências modernistas e buscando a máxima simplicidade expressiva, os projetos de Isay Weinfeld reinterpretam os materiais mais variados, criando composições surpreendentes pela forma e consistência. Com virtuosismo perfeccionista, o arquiteto brasileiro cria vibrantes harmonias de pedras, madeira, vidro e luzes e traduz em planos e volumes o sentido de uma elegante funcionalidade habitacional.

O primeiro dos projetos aqui apresentados, a Residência Inglaterra em São Paulo, surge num terreno estreito, desenvolvendo-se todo no comprimento. Aqui Weinfeld aceitou o desafio de criar uma volumetria ampla e dinâmica, jogando com níveis e proporções. A casa é composta por vários ambientes fechados, justapostos entre si, segundo um princípio estrutural e geométrico colocado em evidência, no exterior, pelo uso de dois materiais diferentes: as paredes com diversos tons de branco e a madeira natural. Um corredor coberto por uma pérgula de madeira maciça conduz a um quintal no qual se abre a entrada principal. Aqui, delimitado por paredes brancas e caminhos de brita, abre-se um espelho d’água com fundo de pedras grandes, que num sugestivo jogo de transparências torna-se um elemento de transição entre o interior e o exterior. Weinfeld trabalha os volumes enriquecendo-os com materiais nobres e reciclados. No interior, os espaços seguem-se de modo fluido, partindo de uma ampla entrada onde se encontra a escada de madeira e mármore branco que leva aos vários ambientes domésticos. Assim, chega-se à cozinha, depois à biblioteca e, no último andar, aos ambientes privativos. Estes estão voltados para um estreito corredor delimitado por uma parede de pedra clara que, iluminada naturalmente por um corte de luz no teto, assume uma grande força expressiva na simplicidade do conjunto.
Para a Flagship Forum, a loja da marca Fórum de São Paulo, Weinfeld desenvolveu um projeto que recupera os elementos da tradição brasileira e os atualiza em uma linguagem contemporânea. O edifício desenvolve-se em uma planta em L, com duas frentes de altura dupla voltadas para a rua, cada uma delas é inteiramente dedicada, de um lado à coleção feminina, e do outro lado à coleção masculina. Um jogo complexo de aberturas e passarelas assegura a visibilidade entre os vários ambientes do edifício. Difundida por painéis de acrílico no teto e amplificada pelos sistemas de iluminação cuidadosamente estudados em todos os níveis, a luz natural intensifica o brilho e a transparência dos materiais. Rompendo a cândida visão monocromática que impera, uma ampla escada em mosaico de vidro colorido conduz ao bar atrás do qual ergue-se uma imponente parede de ”taipa”, técnica rudimentar de construção de terra e fibras muito usada no interior do Brasil. Dos puxadores dos móveis às portas de palha, dos tapetes do nordeste aos móveis assinados por Joaquim Tenreiro, todos os elementos concorrem para definir a imagem do conjunto. ”Eu quis demonstrar – explica Weinfeld – como o uso renovado de materiais e objetos comuns e antigos pode atribuir à arquitetura uma nova expressividade”. Nas suas mãos, mesmo o material, o objeto mais banal libera-se do seu passado para adquirir uma nova dimensão estética.

Isay Weinfeld Isay Weinfeld